A proposta deste breve texto é apresentar algumas pistas do que ligam a vidas de santos como Francisco de Assis, Inácio de Loyola e José de Anchieta. A partir de preciosos escritos do Papa Francisco, temos a inspiração para a contemplação da beleza da Vida no Mundo que supera o tempo e que os aproxima de nós.
Por Ligia Maria Fiorio Custódio Pessin
Nesse momento histórico podemos tocar claramente um dos motivos centrais para se celebrar o dia de São Francisco de Assis: o respeito a toda forma de vida de nossa Casa Comum.
No curso do Ano Inaciano – a comemoração dos 500 anos da conversão de Santo Inácio – somos remetidos imediatamente para a presença marcante de Francisco nesse processo de mudança. “Se Francisco fez tudo isso, eu também posso. E ainda mais!”, dizia o cavaleiro Inácio no seu período de convalescença em Loyola, ao encontrar-se com a vida do santo de Assis.
Hoje, o fato do primeiro papa jesuíta ter escolhido como nome pontifício Francisco é sinal dessa intensa presença recíproca.
A conversão sempre se faz em diálogo, em diálogo com Deus, em diálogo com os outros, em diálogo com o mundo.
Papa Francisco
Mensagem para o Ano Inaciano
Fraternidade e amizade social
Papa Francisco afirmou que a mensagem Laudato Sí e a encíclica Fratelli Tutti são inspiradas em São Francisco. Sendo esta última escrita em italiano e, em um ato carregado de significado, assinada em Assis, o Papa, com esse gesto, torna Assis como que um predicado ou um sobrenome desse importante documento da Doutrina Social da Igreja, assumido como um farol para o cuidado da Casa Comum.
Francisco, o papa, traz consigo toda a espiritualidade inaciana que o formou. O papa, como jesuíta, vive o fruto dessa espiritualidade que Deus confiou a Santo Inácio e na qual também foi formado São José de Anchieta.
Esse aproximar-se da vida e da obra daqueles que buscaram viver a fraternidade e a amizade social ajuda-nos a entender que é possível viver a esperança.

José de Anchieta
Francisco nos ajuda a compreender a própria obra do padre José de Anchieta. O pontífice começa assim a encíclica, que completa um ano hoje:
«FRATELLI TUTTI» escrevia São Francisco de Assis, dirigindo-se a seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida com sabor de Evangelho. Destes conselhos, quero destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, «o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si». Com poucas e simples palavras, explicou o essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita.
Papa Francisco
Carta Encíclica, Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social
Quando José de Anchieta chega, diante da novidade do encontro dos povos, há uma beleza e um amor que não brotou do do dia para a noite. Mas, com solidez, enquanto caminho em terra fértil, os encontros e desencontros recíprocos nos formam. E foi assim entre os povos originários do Brasil e o Apóstolo do Brasil. Há uma beleza especial aqui, uma fraternidade que reuni a Criação no amor, na amizade e no respeito. Todos irmãos.
Beleza em verso e prosa
Se o Poeta da Virgem Maria traduziu em verso a formosura do amor à Mãe de Deus, em prosa transpôs a exuberante beleza das criaturas.
Encontram-se no interior das terras cobras a que os Índios denominam sucuryúba, de maravilhoso tamanho: vivem quasi sempre nos rios, onde apanham para comer os animais terrestres, que a miudo os atravessam a nado; saem porém ás vezes para a terra e os acometem nos atalhos, em que costumam correr daqui para ali. Não é facil acreditar-se na extraordinaria corpulencia destas cobras; engolem um veado inteiro e até animais maiores; isto tem sido observado por todos; alguns dos nossos irmãos o viram com espanto, e até um deles vendo uma serpente a nadar no rio, pensou que era um mastro de navio.
Padre José de Anchieta
Carta de Piratininga, o primeiro relato da Mata Atlântica