Desde a sua criação em 1551 até 1760, data da expulsão dos jesuítas, a escola de ler, escrever e algarismos nunca deixou de ser ministrada até a data da expulsão dos jesuítas dos Reinos de Portugal em 1759. Também estão associadas à subsistência do colégio e da vila de Vitória as fazendas de Carapina e Araçatiba.
Os jesuítas chegaram à Capitania do Espírito Santo em 1551, sendo P. Afonso Braz foi o primeiro missionário jesuíta em terras capixabas. “Receberam-nos, quando chegamos, os moradores com grande prazer e alegria. (…) Passada a Páscoa ordenamos de fazer uma pobre casa para nos podermos recolher. Ela já está coberta de palha e sem paredes. Trabalharei que se edifique aqui uma ermida junto dela, em um sítio mui bom.” Não havia pároco na vila de Vitória, durante 6 anos foi a única igreja. P. Afonso Brás, SJ diz do Espírito Santo “esta onde ao presente estou é a melhor e mais fértil terra do Brasil”. À época, segundo o jesuíta e historiador Serafim Leite, sj registram-se a realização dos ministérios de costume: administração dos sacramentos e escola de ler, escrever e contar.
As ações de ensino aconteceram desde o início. Após a fundação da cidade do Rio de Janeiro, tornou-se escola de ler e escrever e contar a estando ligada ao Colégio do Rio de Janeiro, de quem ficou inicialmente dependente. Em 1584 já se tem registro de ser bem acomodada e que o terreno descia até o Porto.
Importante destacar que o Espírito Santo, tendo o colégio iniciado em 1551, está entre as primeiras escolas do Brasil.
“O estudo das Humanidades no Brasil começou pelos rudimentos de latim em 1550 no Colégio dos Meninos de Jesus, do P. Leonardo Nunes, na Vila de São Vicente, e quase simultaneamente na Bahia, Espírito Santo e Pernambuco. A estes núcleos elementares se seguiram, na Bahia em 1553 e em São Paulo em 1554, classes e depois colégios propriamente ditos, a que logo se juntou o Rio de Janeiro (…) e assim sucessivamente até os extremos do Brasil.”
Mapa da Capitania do Espíritu Sancto, de 1612, pertence ao acervo da Real Academia de la Historia, na Espanha. De Autoria Desconhecida. Extraído da exposição de mapas coloniais do site historiacapixaba.com
Neste ponto se recorda que os aldeamentos se organizavam com um tríplice finalidade: trabalho estável, pessoal ou de caráter público, cooperação e solidariedade política na defesa contra piratas ou invasores estrangeiros. Fazendas organizadas, como as de Carapina e Araçatiba, eram capazes de assegurar a independência autárquica do Colégio e contribuíam para a subsistência da casa e até em parte das aldeias. A Vila de Vitória, em particular, participava da vida do colégio, mas essa influência irradiava por toda a capitania. Nas cartas que descrevem o Colégio há registros do cultivo de hortaliças e plantações de frutas e legumes nos arredores do Colégio. Uma praticas que nos dias atuais valorizamos e chamamos de ações de sustentabilidade.
Durante longos anos, o ensino público de Humanidades só se ministrou nos Pátios da Companhia de Jesus. Com a expulsão dos jesuítas, o ensino no Brasil sofreu uma dura perda e grandes prejuízos.
Com a perseguição instaurada pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas dos reinos de Portugal, todos as propriedades dos jesuítas foram confiscadas pelo governo e muitas destruídas. O exílio provocou o abandono das bibliotecas das casas e colégios da Companhia, muitas das quais absorvidas pelas diversas instituições diocesanas e públicas dos reinos. Os registros apontam que já em 1798 já se chama de Palácio do Governo.
No Espírito Santo, diferentemente de outros lugares nos quais a saída aconteceu com violência, o historiador P. Serafim Leite descreve a saída dos jesuítas assim:
“O Colégio dos Jesuítas, com boa livraria, com as suas aulas, com a assistência religiosa e caritativa, com os seus variadíssimos ministérios, teve vida ininterrupta, pacífica e fecunda, durante mais de dois séculos. Até que lhe chegou também a tormenta. No dia 04 de dezembro de 1759, apresentou-se em Vitória com o aparato militar, usado em todos os mais Colégios, o Desembargador João Pedro de Souza Sequeira Ferraz. Deu conhecimento ao Reitor P. Silvério Pinheiro da sua triste comissão, portando-se com dignidade e benevolência, consultando os próprios Padres sobre o melhor meio de a realizar. Reuniram-se no Colégios os Padres e Irmãos. Em enfim, no dia de todas as Casas da Capitania, entre os quais o escritor Manuel da Fonseca, ao todo 17. E enfim, no dia 22 de janeiro de 1760, de batina e capa, levando ao peito o crucifixo dos seus votos, entraram no pequeno navio e deixaram o Colégio e a Vila de Vitória, a caminho do Rio e do exílio. O povo do Espírito Santo acorreu a despedir-se e a protestar com lágrimas o levarem-lhe assim os Padres.”